O
coração ruge no peito tal os cascos tamborilando o chão
Os
olhos baços do animal dardejam o horizonte
Ele
cavalga e cavalga, o açoite em meio a gritos
O
tempo os persegue como uma flecha
Cavalga
e cavalga, desce vale, sobe colina
Os
músculos tremem, os pulmões ardem
A
vida escapa jorrando pelas narinas do cavalo
Possuído
pelo galope, a energia o ferve, saliva esvoaça
O
homem esmaga as rédeas, cavalga e cavalga
Tentam
superar o destino, a poeira esconde o que sobrou
Pulsando
e pulsando, saltos de quatro patas, um coração que morre
Um
relincho, meneios da longa cabeça, o espírito vai além do corpo
que se entrega
A
carcaça quente enfrenta o chão, o estrondo molhado, metal
tilintando
De
rosto para o céu ele ouve o vento, sente a derradeira expiração do
animal
No
alto as nuvens voam, o deixam pra trás
Seu
peito se ergue pesado, o corpo convalescido se apóia na ruína do
vigor que resta
Passo,
passo, cada um mais ansioso, solta fivelas, metal ao chão
Peça
por peça, descarna o homem de lata, expõe sua pele suada
Ele
corre, a dor lhe arranca gemidos, o vento lambe o suor e assedia sua
boca
Escapa
do peito a alma que se avança, vívida ainda em esperança
Espada
na mão, bainha descartada, ele não chegará, ele não chegará
Está
morto e não sabe, não poderá salvá-la
O
horizonte de sua consciência retrocede à medida que seu passo
avança
Sem
fim para um fim não justo, persegue o descanso negado, o remorso
ratificado
Não
vai, não pode, ninguém a salvará
Ele
não chegará, pernas se convencem, músculos se rendem
Da
sinfonia de ruídos, o surdo findar é o choque, joelhos contra a
terra
A
mão trêmula estendida, a espada apoiada empalando sua sombra
retorcida
Os
olhos lívidos cheios do que resta, emoções evacuadas tateando a
borda do mundo
Ele
não pôde salvá-la, está morto e não sabe
O
passado que o perseguiu agora ancora sua alma
Fecha
as pálpebras, resignado, o mundo é só um sonho, ou é ele algo
sonhado
Ele
não pôde, não conseguiu salvá-la
Está
morto e nem sabe, que um dia fitou a aurora
Agora
no crepúsculo rubro da última luz que lampeja em seus olhos
Aprendeu
que a última noite vem sem horas
Como
uma pedra que parou de rolar, seu corpo debruça
Resta
a espada em pé, uma lembrança enferrujada
Um
dia ele não pode salvá-la
Esteve
vivo e não sabe
Num
lugar sem sons, cavalga e cavalga
Mas
o tempo já o deixou pra trás...
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