Estou sem voz.
Minha boca articula,
porém alguém distorce as minhas palavras.
Estou sem voz.
Tenho um discurso na
ponta da língua sobre tudo o que está errado ao meu redor, mas
várias mãos tampam meus lábios, inclusive as minhas.
Estou sem voz.
O corpo adoeceu e na
minha garganta morreu um grito que continha todas as minhas
frustrações, inclusive palavras de ódio a você.
Estou sem voz.
Sussurro em minha
própria mente que ainda insiste em argumentar comigo, dizendo que
não me reconhece mais. Diz que meus desejos são vazios e que estou
matando a pessoa que um dia fui.
Estou sem voz.
As palavras se
embaralham e tropeçam na minha boca quando falo com estranhos. O
estranho é que eu tenho muito a dizer, mas não para eles. Perdi o
interesse em falar com pessoas novas quando as velhas se mostraram
superficiais e mesquinhas.
Estou sem voz.
O doutor me diz que
tenho que me expressar. Outro diz que tenho depressão. Alguns poucos
amigos dizem que eu devo me tratar. Porém o que eu queria era apenas
ser ouvida.
Estou sem voz.
Me rotularam e
disseram que eu só poderia gostar de determinadas coisas, pois é
isso que está escrito no meu manual de instruções. Um dia me
atrevi a fazer algo inesperado e eles não gostaram. Me substituíram
na semana seguinte, diziam que eu estava estragada.
Estou sem voz.
Eu quero um respeito
que não me dou, mas sei que tenho direito. Que compreendam a fúria
que tenho em momentos curtos da minha vida. É quando tento elevar a
minha voz, mas é um berro que sai naquele instante. Eu não queria...
Estou sem voz.
Fisicamente,
emocionalmente e até mentalmente. Sou vetada de tantas formas que
estou desmotivada em olhar para frente. Porque olho ao meu redor e
vejo tantos dementes que prefiro ficar em silêncio. Porque olho no
espelho e vejo uma complacente, conformista que um dia foi idealista
e hoje é cacos de ninguém.
E se escrevo é porque
preciso falar. Mas as palavras falham... A voz não vem.
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