Numa caverna no
coração de uma floresta congelada havia uma civilização muito
antiga e abandonada. Homens que construíram toda uma vida dentro de
um buraco de solidão onde se protegeriam do frio eterno daquela
região.
Seus pés o solo não
poderiam encostar, pois muitos por distração perderam mais do que
um dedão. Sua pele exposta não poderia estar ou a umidade iria lhe
devorar. Então pele de animais mortos e madeiras secas foram
adaptadas para que propícia ficasse sua morada. Eram homens muito
frágeis, eram homens muito corajosos. Eram homens de papel.
-Você acha que há
mais de nós por ai? -Perguntou Rabisco.
-Novamente com esses
pensamentos delirantes? Claro que não. -O tom de Amassado foi
ríspido. -O grande Origami nos disse que somos únicos e jamais
deveríamos duvidar. Aqueles que passaram pelas portas daquelas
cavernas a morte com certeza irá encontrar.
-Mas Amassado, e se a
vida for mais do que o medo? E onde fica os nossos desejos?
-Está querendo
arrumar encrenca, Rabisco? Vamos! Chega de conversa mole e vamos
voltar ao serviço.
-Está bem, bem...
bem?
-O que foi agora?
-Não compreendo porque nossos mortos devemos na temível água molhar. Trabalho ingrato
esse que você foi me arranjar. As pessoas mal olham para nossos
rostos, como se fossemos da própria morte mero esboços.
-Está andando muito
com Rasgado. E mais te falo! Esse delirante é dos piores casos. Um
caso não solucionado. Um pobre coitado. Afasta-te dele enquanto
puder ou se bom senso tiver.
Rabisco ficou
pensativo. O pobre Rasgado era um velho e seu amigo. Suas palavras
despertavam um dinamismo em sua vida que até então era dividida
entre trabalho e pagar suas dívidas. A sociedade dos homens de papel
era cara e ingrata. Enquanto a nata vivia em seus castelos, sãos e
salvos, os plebeus viviam em caixotes improvisados, úmidos e mofados.
-Tem que ter algo
mais. Se eu for corajoso, saberei do que sou capaz?
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