-...e ele ficou se
contradizendo o tempo todo! Detesto pessoas assim!
Dois homens estavam
sentados numa mesa em uma cafeteria no centro de uma cidade muito quente. Tomavam café e comiam pão de queijo no intervalo do trabalho deles.
-Uhum. -Disse o outro
enquanto tomava mais um gole do seu café.
-E aquele político
então? No primeiro turno tinha uma opinião que ia totalmente contra
a do outro candidato que agora ele apoia no segundo turno. São todos
uns corruptos mesmo. Sem palavras.
O outro mexia no
celular lendo alguma coisa enquanto o colega continuava a desabafar
suas frustrações.
-E aquela escritora
que eu tanto gostava, lembra? Aquela estrangeira que escrevia
histórias sobre motivação. O último livro foi um drama terrível
em que não havia uma solução. Como pode ser tão hipócrita?
Escrever sobre o que não sente? Afinal, quem ela pensa que somos?
-Uhum.
-O que você acha
disso Jorge?
O outro apenas ajeitou
seus óculos e ainda pensava porque aquela conversa teve esse rumo.
-Acho que seu café
esfriou.
-Ah, vamos. Fale algo.
Eu sei que também concorda comigo, mas quero ouvir sua opinião.
-Quer mesmo?
-Claro! Perguntei, não
foi?
-Bom, então por onde
devo começar? Acho que você tem muita opinião sobre as coisas e
poucos argumentos, Juvenal.
O homem que estava
dando seus primeiros goles no café engasgou um pouco.
-O que quer dizer com
isso?
-Quero dizer que você
crítica o político, mas não deve ter lido suas propostas de cabo a
rabo para julgar se eram tão diferente assim do outro candidato e nem
os motivos reais de tê-lo apoiado. Alias, se as pessoas fizessem
isso talvez elas notassem que o nosso problema vai muito mais além
da corrupção.
-Mas eu li aquela
matéria que estava naquela rede social que comprovava que o
candidato do segundo turno fez tudo aquilo.
-Claro e eu posso
agora mesmo criar um bom texto dando 10 motivos para elegermos uma
planta como próximo presidente, se isso fosse possível no Brasil, e
não demoraria para alguém criar uma página falando sobre isso e
defendendo o meu ponto de vista, assim como algumas pessoas dariam
razão e tentariam falar por mim, dizendo que estou fazendo uma
crítica ao sistema capitalista, socialista... E qualquer sistema que
os desagrade. Mas eu apenas queria fazer um texto engraçado no final
das contas. O que nos leva a questão da escritora.
O outro ia dizer algo,
mas Jorge pediu novamente a palavra.
-Um escritor pode
escrever o que sente, mas para que se limitar? Porque não observar o
cotidiano e absorver a essência dele? E quem disse que ele não
sentiu tudo aquilo quando escreveu? Podemos imaginar diversas
situações em nossa mente e nosso coração pode sentir cada uma
delas. Sofremos por coisas que não existem, alguns pensadores já
diziam isso. Ficamos doentes por problemas que não são tão
irremediáveis assim. O que se espera de um escritor se não
conseguir traduzir tudo aquilo que muitos não conseguem dizer com
palavras?
-Mas isso tudo é
hipocrisia!
-Hipócrita é aquele
que só por não conseguir sentir tudo isso diz para si mesmo que
ninguém mais é capaz de tal feito. É querer colocar sua verdade
como absoluta e sobrepujar as verdades das outras pessoas.
-Está me chamando de
hipócrita então?
-Essa é a sua
interpretação das minhas palavras. Assim como as demais opiniões
que você teve. Já disse e torno a repetir, você tem muita opinião,
mas peca em argumentos.
-Sou livre para pensar
o que quiser e não preciso de argumentos que o agrade.
Jorge terminou de
tomar o café e pediu a conta, tirando o dinheiro da carteira.
-E é livre para pedir
a opinião dos outros, como pediu a minha. É livre também para
interpretar o que quiser. Mas se pedir a opinião de alguém tem que
estar preparado para ouvir qualquer coisa. Bem, acho que temos que
voltar ao trabalho. Tenho uma matéria que envolve uma planta concorrendo uma eleição para escrever.
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